Documentário: Hiroshima – BBC History of World War II (2005)

hiroshima

Decidi assistir esse documentário após vê-lo disponível na Netflix. Hiroshima é um documentário produzido pela BBC EUA para ser exibido em 2005, marcando o aniversário de 60 anos do ataque à Hiroshima pela Bomba Nuclear.

Em minha opinião, o documentário possui três fases: A primeira na qual mostra-nos a fase de preparação da bomba e a realização dos testes, denominado Trinity; A segunda que mostra a necessidade do ataque e o bombardeio em si; E a terceira que mostra as consequências pós-bombardeios, em termo de vítimas e fim da Segunda Guerra Mundial.

Para mim, este documentário é extremamente capcioso. É um documentário feito por americanos para americanos. A todo momento, o documentário tenta justificar e explicar a decisão de bombardear tal cidade japonesa, “relatando-nos” que “a bomba foi crucial para o fim da guerra e que impediu a morte de milhares de pessoas, entre militares americanos e civis japoneses”. Em algumas partes, os americanos são pintados como heróis: “aqueles que se arriscaram para realizar o teste”, “o soldado da marinha que se arriscou para ativar a bomba em pleno voo”, “os bravos soldados americanos que fizeram  história pondo fim a guerra”.

Em contrapartida, os japoneses são (muito) representados como tolos e orgulhosos. A visão que o documentário passa é que a todo momento os EUA deram opção para os japoneses se renderem, que a culpa de tantas mortes é exclusivamente do Conselho de Guerra Japonês, que miraram somente cidades militares e industriais. Uma das tramas mais desnecessárias é sobre um General de Guerra que, segundo o documentário, chega a se suicidar “pelos crimes que cometeu”, sendo que quem lançou a bomba foram os americanos.

O que esse documentário não nos mostra é que em Agosto/45 a Alemanha já havia se rendido, que o Japão estava devastado pelos bombardeios americanos e sem suprimentos, que o país provavelmente não aguentaria levar uma guerra adiante sozinho por causa da fome e falta de soldados. Também não nos informa que a estimativa de mortes chegou a 140 mil em Hiroshima e 90 mil em Nagasaki, sem contar as mortes secundárias por radiação como dos filhos dos sobreviventes, por exemplo.

A informação é tão manipulada que ao nos mostrar como foram escolhidos as cidades-alvos, dizem que Tóquio não foi escolhido pois o Capitão “gostava por demais de templos”. No entanto, muitos afirmam que Tóquio não foi o alvo prioritário pois precisavam que grande parte da elite intelectual do país, que se encontrava em Tóquio, entendesse o poder de devastação de tal bomba e não poderiam fazê-lo se estivesse mortos. Desse modo, o alvo passou a ser prioritariamente Hiroshima, estando ela escolhida a tanto tempo que quase não sofreu bombardeios durante a guerra.

Outra razão para terem escolhido Hiroshima e Nagasaki é que, na época, estas eram cidades essencialmente industriais e, provavelmente, junto com algumas outras cidades japonesas, seriam as únicas capazes de se opor a economia de mercado estaduniense que precisaria ser absorvida após o fim da guerra. Assim, o bombardeio não foi programado somente por razões políticas, como por fim a guerra, mas também por razões econômicas, garantindo o crescimento da indústria americana.

O documentário termina nos mostrando como Hiroshima é hoje uma cidade bela e feliz, que se desenvolveu após a guerra, chegando até mesmo a insinuar que foi “favor” terem bombardeado a cidade.

Só posso dizer como esse documentário nos deixa uma lição valiosissima: a averiguação das informações das quais temos acesso. Quem imaginaria que um veiculo de informação conceituado internacionalmente como a BBC faria tal propaganda da ideologia americana, justificaria um genocídio e parabenizaria como heróis os soldados americanos envolvidos? O mais impressionante é que o documentário ganhou diversos prêmios, inclusive um Emmy (2006). Um documentário totalmente parcial, que tenta os fazer uma lavagem cerebral afirmando que a bomba atômica foi para o “bem de todos”. A todo momento me senti como se eles me chamassem de burra…1,5

Filme: O Menino do Pijama Listrado(2008)

O-Menino-Do-Pijama-Listrado

Há algum tempo atrás tinha feito uma resenha sobre o livro de John Boyne, O menino do pijama listrado. Portanto, não repetirei a sinopse do filme, que segue a mesma premissa livro. Quem quiser saber mais, pode acessar o post por aqui. Também algum tempo atrás fiz resenha sobre o livro A Lista de Schindler – A verdadeira história e do documentário Auschwitz – Inside the Nazi State (2005), para quem se interessa, assim como eu, por 2ª Guerra Mundial.

Quem leu a minha resenha deve ter percebido que o grande segredo do livro está em como Boyne narra os fatos pela visão de Bruno, uma criança inocente. Antes de assistir ao filme, tive medo que ele não passasse toda a singeleza apresentada pela história, que está muito mais relacionada à psique interna de Bruno do que à guerra em si. Felizmente, meus anseios não foram correspondidos =)

Uma das coisas que achei mais legal nesse filme é que realmente houve uma adaptação das tramas para mantê-lo fiel a ideia do livro, algo que venho achando difícil de ocorrer na transformação de livros em filmes: ou o filme não tem nada a ver com  livro e perde seu sentido original, ou o filme narra os fatos exatamente da mesma maneira que o livro e acabamos perdendo na parte psicológica (que, na minha opinião, aconteceu um pouquinho com Jogos Vorazes e muuuito com Cidade dos Ossos).

O Menino do Pijama Listrado não sofre de tal problema. Uma das coisas que mais gostei foi a forma como eles mostraram a transformação da visão de Bruno em relação ao pai. Logo no inicio do filme, quando o pai dele aparece para falar que iriam se mudar eu pensei: “O quê? Por que estão mostrando o pai do Bruno tão bonzinho?”. Na realidade, cheguei a desconfiar um pouco da história, mas depois pude perceber como isso era necessário. Outra coisa que me agradou bastante foi o filme mostrar fatos sobre a 2ª Guerra Mundial que o livro nem chega a tocar, como a propaganda nazista para a juventude Hitlerista no caso de Gretel e os fornos crematórios do campo, por exemplo.

Fico feliz que eles não tenham pintado a Guerra preto-no-branco. O próprio Bruno acaba sendo influenciado pela ideologia nazista ao ler Mein Kampf, mesmo tendo um judeu como amigo. E isso acaba por mostrar que é muito simples, hoje, pintarmos os nazistas como os filhos do diabo sem nos darmos conta de toda ideologia, discurso e propaganda envolvida por trás. Aliás, falando em propaganda, a cena em que mostram as publicidades que eram feitas sobre os campos é um bom exemplo disso.

Posso dizer que, em termos de história da 2ª Guerra Mundial, achei o filme muito mais rico, mantendo toda a inocência apresentada no livro de maneira tão singela. Não é um filme sobre como os judeus foram “judiados”, não é um filme sobre como a Alemanha perdeu a Guerra, nem ao menos é relato dos sobreviventes; é um filme sobre relações humanas, a história de dois meninos inocentes que são separados não somente por uma cerca, mas por ideologias e ideologias.

Com certeza essa foi a melhor adaptação literária para os cinemas que assisti esse ano!!!

5

Para Ler #22: O menino do pijama listrado

o-menino-pijama-listradoBruno tem apenas 9 anos e já tem que conviver com uma grande modificação em sua vida: se mudar de sua casa em Berlim para uma casa em “Haja-Vista”, em decorrência do trabalho de seu pai. Isso significa ter que abandonar seus amigos e passar a ter contato somente com mais uma criança, sua irmã Gretel (“um caso perdido!”). No entanto, não é só isso que tal espaço reserva a Bruno; adiante da janela de seu novo quarto, existe uma cerca e, atrás dessa cerca, há várias e várias pessoas, todas vestindo o mesmo pijama listrado. Em uma de suas explorações, Bruno encontrará um menino de sua idade, Shmuel, e através dessa cerca que separa dois mundos tão distintos, se tornarão amigos.

Minha história com esse livro já é um pouquinho antiga. Quando estava no colegial, minha professora de história pediu que lêssemos para ter uma perspectiva diferente da tradicional sobre o período. A realidade é que na época amei o livro! Quer dizer, se se pode amar coisas tão terríveis… Para mim, a primeira leitura foi a melhor, pois cada termo empregado por Bruno, como, por exemplo, “Haja-Vista” e “Fúria”, era uma descoberta que eu tinha de realizar. Por isso estou sendo tão cuidadosa nessa resenha para não falar de mais.

Hoje, 3 anos depois, resolvi reler o livro para fazer uma resenha pro blog (e também porque vi que na Netflix tinha o filme e queria reler a história antes de assisti-lo). Apesar de continuar amando o livro, não foi uma experiência tão boa como a primeira lida, pois a sensação de expectativa e surpresa já havia passado. No entanto, pude perceber outros pontos da história, que antes não havia percebido.

O grande diferencial desse livro com certeza é a narração. John Boyne genialmente  nos transporta para dentro da cabeça de um menino de 9 anos que vivia na déc. de 40. Suas frases são curtas, há várias repetições para reforçar a visão de Bruno e seu raciocínio é teleológico, ou seja se desenvolve a partir da finalidade das coisas, condizente com o raciocínio das crianças. Bruno ainda é inocente, não sabe mais do que deveria saber, não tem atitudes de adulto. Lendo o livro, em nenhum momento você duvida que foi escrito por uma criança de 9 anos. A narração é tão perfeita que me transportou de volta para a minha infância!

Os soldados continuavam indo e vindo todos os dias da semana, fazendo reuniões no escritório do pai, no qual era Proibido Entrar em Todos os Momentos Sem Exceção.

5

Se você ainda não leu o livro, não leia o que escreverei logo abaixo. No entanto, se você já o leu, heis uma curiosidade: (selecione para ler)

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Para Ler #17: A Lista de Schindler – A verdeira história

A_LISTA_DE_SCHINDLER_A_VERDADEIRA_HISTORIA-1024-1024Creio que todos, se não assistiram, ao menos já ouviram falar do filme A lista de Schindler, dirigido por Steven Spielberg. O filme, produzido em 1993, foi — e continua sendo — um grande sucesso.

O filme, basicamente, conta a história do resgate de mais de 1000 judeus durante o holocausto, com a ação salvadora de Oskar Schindler, um empresário que através do emprego de “seus judeus” em suas fábricas, conseguiu impedir a deportação deles para o Campo de Auschwitz, onde provavelmente seriam assassinados.

A obra é a autobiografia de Mietek Pemper, pessoa que serviu, muitas vezes, de intermediário entre o tenente Amon Göth, o responsável pelo campo de concentração de Plászow, Kracóvia, e Schindler, ajudando ativamente na elaboração da lista. Justamente por ser um relato daqueles anos terríveis, Mietek começa nos informando da história de sua família, à formação dos Guetos judeus da Kracóvia, passando pela formação do campo de concentração e trabalhos forçados de Plászow, até a reconquista da liberdade com a ajuda de Oskar.

Na época da Guerra, Mietek era um jovem na casa dos vinte anos, que entre

Mieczyslaw (Mietek) Pemper

Mieczyslaw (Mietek) Pemper

outros cursos, cursava Direito. Por ser bilíngue, foi utilizado muitas vezes pelos oficiais nazistas como intérprete. Quando ocorreu a formação do campo, acabou se tornando o assistente pessoal de Amon Göth, retratado por Spielberg como o Demônio no filme.

Por estar em uma posição privilegiada, tinha acesso à informações confidenciais, tornando-se um espectador incomum: um judeu que sabia o que estava realmente acontecendo. E por isso, o livro tem um enfoque diferenciado do filme.

No filme, o personagem principal é realmente o Oskar Schindler. Na obra literária, que foi escrita em 2005, temos mais enfoque na relação de Mietek com Göth, como conseguia as informações e como foi os julgamentos dos oficiais da SS. Schindler e sua lista só aparecem no final do livro. Portanto, tive a impressão que em primeiro plano ficou Göth e somente em segundo Schindler.

Por ser uma obra posterior ao filme, o autor nos aponta vários pontos da “liberdade cinematográfica” de Spielberg, como por exemplo, o marcante jogo de cartas na qual Schindler “conquista o direito sobre uma judia”, que segundo Pemper, não aconteceu realmente. A impressão que o livro passa é que o “Anjo e o Demônio” estavam mais em uma dança constante, na qual ninguém poderia desconfiar dos objetivos de Oskar.

Este foi um livro que demorei mais para ler, cerca de duas semanas, mas é um livro para ser lido e “digerido” com calma.  No inicio, tive um pouco de dificuldade para entender as patentes da SS, e a realidade é que muitas vezes passei direto por elas, somente tentando estabelecer na minha mente uma ordem hierárquica entre os apresentados. Depois que terminei de ler o livro, percebi que havia um glossário com as patentes da SS e seus equivalentes no exército. Outra coisa legal é que há um quadro com a ordem cronológica dos acontecimentos, portanto, se você procura mais informações sobre a 2ª GM, principalmente, sobre a situação da Polônia, esta pode ser uma maneira fácil de entender o que aconteceu.

Tive uma professora nesse primeiro semestre de 2013 que sempre dizia que um operador do Direito tem uma postura diferenciada em relação as demais pessoas pois tem uma visão e uma ciência mais aprofundada das consequências legais. Percebi muito isso com este livro, e apesar de Pemper ser de geração e país diferentes aos meus, isso ficou muito claro. A todo momento ele se refere à tribunais (especialmente Nuremberg), à depoimentos e testemunhos e à sua própria experiência como testemunha de acusação em diversos processos.

Dessa vez a resenha será diferente e não terá estrelinhas porque ainda estou em conflito em relação a minha opinião do livro. A realidade, é que talvez não me ache capaz de julgar um livro que traz consigo tamanha responsabilidade. No entanto, com certeza o recomendo à todos que se interessarem pela 2ª Guerra Mundial.